HOJE CONVERSAMOS
NUNO ORGANISTA
“Quando começo a fotografar o meu único pensamento é o
serviço que tenho para apresentar aos meus Clientes”, palavras de Nuno
Organista
Tem uma década de actividade coimo fotógrafo de automóveis, e é um dos
melhores que temos em alguns dos cenários do nosso automobilismo nacional,
nomeadamente em provas de circuito. De
seu nome Nuno Organista, quisemos saber
que é na realidade o Nuno Organista, que nos começou por dizer “ O meu nome
é Nuno Miguel Organista Oliveira, mais conhecido no mundo da fotografia por
NunOrganistA. Nasci em Matosinhos e
atualmente moro em Valongo (Porto). Tenho 44 anos de idade e faço fotografia de
desporto automóvel somente há cerca de 10 anos. Contudo, nunca tirei um curso
avançado de fotografia… sou autodidata e é assim que gosto de aprender…
aprender com os erros. Sou licenciado em Gestão Bancária e Seguros e atualmente
sou o responsável pela área de Middle-Office e Solvência de 3 empresas de um
Grupo Financeiro. Tenho 2 lindos filhos
(o Igor e a Beatriz) e uma fantástica esposa e este ano vamos ser avós… sim
avós, mas avós jovens e modernos. Muita gente pode-me achar um pouco arrogante
ou que tenho a mania, só porque estou sempre focado no meu trabalho e por
conviver ou falar pouco, mas isso tem uma simples justificação, sou uma pessoa
tímida, não gosto de errar e não gosto de andar a bajular as pessoas.” De
que maneira chegou ao jornalismo e à fotografia? Qual a razão pela fotografia
de automóveis de competição, o que logo respondeu “Antes do nascimento da
minha filha passava os meus tempos livres a tirar variados cursos em nada
ligados à fotografia, até que com o aproximar do nascimento dela comprei uma
máquina fotográfica digital da SONY com lente intermutável e o bichinho começou
a crescer desde aí. Comecei a aprender umas “coisinhas” pela Internet, comecei
a arriscar e a fazer uns batizados, uns eventos familiares, um casamento
familiar, até que o meu vizinho David Sá me convida para ir com ele a uma prova
da FEUP onde o filho iria correr com um FIAT Punto e comecei a acompanhá-los em
todas as provas. Claro está que levava sempre a minha máquina para as corridas…
até que um dia resolvi pedir autorização à Organização para ir para a pista
fotografar o meu vizinho. Enquanto estava em pista ia vendo o que os outros
fotógrafos faziam e os sítios que escolhiam para fotografar e lá ia eu tentar
imitar. Quando comparava as fotos não tinham nada a ver com as dos outros
fotógrafos, porque ou não tinham velocidade ou a saturação estava exagerada ou
a exposição não era a melhor… e passava horas a pesquisar na net as soluções
para as minhas falhas e na oportunidade seguinte lá ia eu tentar novamente. Ao
contrário do que muitos fotógrafos faziam na altura, eu não me limitava a
tentar fazer só cinco ou seis fotos “bonitinhas”, mas sim a contar uma
história, ou seja, um serviço com princípio, meio e fim fruto da minha pouca
experiência e baseado no que fazia até então nos batizados e casamentos. Até
que o meu vizinho me disse que os outros pilotos estavam a gostar muito das
fotos que eu fazia e que eu deveria falar com eles nas provas seguintes. E foi
assim que comecei a fotografar desporto automóvel…”
Ao longo
destes anos de carreira diga-nos na sua opinião qual foi o ponto mais alto, o
que depois de pensar um pouco disse “Para quem não se dedica a tempo inteiro
à fotografia e dá muito valor à sua família, estaria a mentir se dissesse que
tenho muitas ambições no que toca à fotografia e ou desporto automóvel. Como
tal, para mim, todos os momentos em que estou a fotografar são de importância
máxima. A minha dedicação ao serviço que presto aos meus clientes sejam
nacionais ou internacionais, sejam de uma categoria mais baixa ou mais alta, é
sempre a mesma… e o ponto mais alto é ver esse esforço reconhecido. Claro está
que sinto um grande orgulho quando vejo publicações minhas nos Órgãos de
Comunicação Social, principalmente na AutoSport e outros … mas o simples facto
de saber que uma determinada foto correu o mundo todo, é a cereja no topo do
bolo para qualquer fotógrafo… e isso felizmente já me aconteceu com a foto que
fiz ao Tiago Monteiro quando estava no pódio com os milhares de fãs e
admiradores de Vila Real como pano de fundo”. E sustos já apanhou no desempenho do seu
trabalho como jornalista/ fotógrafo? Conte-nos o que lhe aconteceu, “Sim,
mas por incrível que pareça os maiores sustos que já apanhei foram nas 3 a 5
horas de viagem de regresso a casa depois de um fim de semana, entre andar a
fotografar em pista e a editar fotos no Hotel, onde se trabalha entre 36 a 40
horas, já dei por mim a fechar o olho e só por sorte nada aconteceu. Contudo,
também já apanhei alguns sustos quer em Circuitos, quer na Montanha, desde carros
a capotar, peças pelo ar, tangentes ao local onde estava a fotografar… mas nada
que colocasse a minha vida em perigo .Já me aconteceu várias vezes, ter tido a
oportunidade de fotografar momentos únicos de acidentes e toques em pista, em
que me fiquei somente pelo dedo em cima do disparador e aquele momento
exclusivamente gravado na minha memória, porque o mais importante é sentirmos
que estamos em segurança e não podemos ser egoístas ao ponto de colocar a nossa
vida em risco só para fazer a nossa última foto.
Para fazer a
preparação duma prova em que vai trabalhar, quanto tempo necessita para
organizar tudo, logo replicou “Eu sou
uma pessoa muito organizada e perfecionista e começo a preparar cada prova com
pelo menos uma semana de antecedência por forma a que a minha equipa tenha todo
o material pronto a disparar e acima de tudo cada um saiba o que vai fazer em
pista e fora dela. Contudo, só em volta do material passo umas boas três a quatro
horas a limpar e organizar. “ Que material fotográfico tem em sua posse
para poder trabalhar? ”Neste momento o meu parque de fotografia principal é
composto por 3 máquinas fotográficas: CANON 1Dx Mark III, CANON R5 e CANON R6. Quanto a lentes: CANON EF 8-15mm
f/4L, SIGMA EF 24mm f/1.4, CANON RF 24-70mm f/2.8L IS, CANON RF 24-105mm f/4L IS,
CANON RF 70-200mm f/2.8L IS, CANON EF 70-200mm f/2.8L IS III, SIGMA EF 105mm
f/1.4, SIGMA EF 100-400mm f/5-6.3 DG OS HSM e CANON EF 200-400mm f/4L IS. Tenho
2 flash: ProFoto A1 e CANON Speedlite 600EX II-RT. Entre outros acessórios…”Qual
a sua opinião acerca da evolução das máquinas fotográficas nestes últimos dois
anos? “A tecnologia está em constante evolução e o mundo da fotografia atual
está a dar um grande passo para o mundo mirrorless. As máquinas chamadas DSLR
que atualmente vemos nas mãos dos fotógrafos (tirando as de topo de gama
flagship) têm os dias contados e então este ano decidi renovar praticamente
todo o meu material fotográfico. Foi um investimento enorme com uma única
finalidade, a de bem servir…”
Na sua opinião o que acha do nosso automobilismo desportivo
em todas as vertentes? Acha que tem evoluído?
Acha que está no bom caminho?
Podia-se fazer mais? “ Infelizmente não tenho muito tempo para
acompanhar o automobilismo em geral. Não acompanho a Fórmula 1, não acompanho
os rallies sejam nacionais ou internacionais, não acompanho o Motociclismo…
basicamente não perco muito tempo com coisas que não pertencem ao meu mundo, ou
ás minhas ambições. Portanto não tenho muito para dizer a este respeito . Com
base na minha pouca experiência, a única coisa que posso dizer é que existem
Promotores que tentam fazer sempre melhor que no ano anterior, mas quando não
existem apoios e o dinheiro que cobram aos pilotos praticamente só dá para
pagar aluguer de pista, não se pode exigir muito mais. Por outro lado, vejo que
são poucos os pilotos que reconhecem isso e que conseguem dar umas palavras de
incentivo para o pouco e bom que se tem feito, mas sem ovos não se podem fazer omeletes
e os pilotos também têm que ajudar nem que seja na sua autopromoção e
investirem um pouco na imagem e divulgação dos seus sponsors. ”Dentro do
automobilismo quais as disciplinas que mais gosta de fotografar, e porquê? “Já
fotografei durante alguns anos as provas de Montanha e adorei… os cenários, as
cores, as pessoas. Neste momento dedico-me ás provas de Velocidade em
Circuitos, e pouco mais, porque por muito que goste do que faço e dar sempre
200% de mim, quer faça chuva ou sol, dou muito valor à minha esposa e aos meus
filhos e sei bem que os iria prejudicar bastante caso quisesse fotografar tudo
o que tivesse duas ou quatro rodas, só pelo prazer de fotografar.” O que
lhe vai no pensamento quando está a fotografar uma prova?” Como eu disse
anteriormente, a minha profissão principal é muito stressante e só trabalho com
números. Quando vou para uma prova mudo completamente o chip e isso faz-me
muito bem psicologicamente. Quando começo a fotografar o meu único pensamento é
o serviço que tenho para apresentar aos meus Clientes, só tenho que me focar na
estratégia que delineei e dar o meu melhor naquele curto espaço de tempo.” Sente-se
emocionado quando vê uma corrida e está a fotografar a mesma? Tem assim algum episódio que nos possa
contar?” Muita gente olha para as corridas, mas só vê quem ganha, enquanto
que nós fotógrafos, somos uns privilegiados e vemos muito mais do que isso, mas
confesso que nunca fico indiferente quando um cliente meu ganha uma prova. Pese
embora, para mim, a verdadeira emoção de uma corrida não está na linha de meta,
mas sim, no que determinado piloto fez durante a corrida, porque mesmo que não
a ganhe sinto-me orgulhoso por estar a captar momentos que sei que um dia ele
vai recordar com os filhos, com os netos, com os amigos e que isso só aconteceu
porque eu estava lá. Contudo, todos temos os nossos ídolos e eu em particular
tenho uma estima muito grande pelo Pedro Salvador, não só pelo excelente piloto
que é, mas principalmente por ser como é: humilde, resiliente, sincero, trabalhador
e amigo, e como tal, sempre que ele participa numa qualquer prova, vibro de
maneira diferente seja numa corrida de carros de rolamentos ou de carros de
competição…”
Para quem se
está a iniciar na fotografia e no jornalismo que conselhos gostaria de dar o
que sem tempo rematou “Custa-me dizer
isto, mas no que se refere a fotógrafos e jornalistas focados somente na
vertente do desporto motorizado em Portugal, tentem não fazer desta atividade a
vossa principal profissão… em Portugal são pouco reconhecidos, ganham mal e
será muito difícil terem uma vida familiar economicamente estável. A todos
aqueles que já andam nisto faz alguns anos, fotógrafos talentosos e acima de
tudo ainda jovens, não pensem duas vezes
e apostem numa carreira além-fronteiras.” E as condições de trabalho nas
nossas provas são boas? O que poderia ser feito para melhorar estas mesmas
condições de trabalho?”As condições que temos nos nossos Circuitos de Braga,
Estoril e Portimão, não são más… Contudo, gostaria de apontar algumas coisas
menos boas que poderiam ser melhoradas:
Acha que a atribuição dos Media FPAK deveria ser mais controlado, de forma a diferenciar os profissionais dos amadores de fim de semana?” Infelizmente em Portugal ter Media FPAK e Carteira Profissional de Jornalista (CPJ) é exatamente a mesma coisa e no meu entender existe aqui alguma confusão entre Media FPAK e os Profissionais, os quais possuem uma Carteira Profissional de Jornalista, trabalham para um OCS e que têm fotos suas publicadas com alguma regularidade nos OCS. Relativamente ás acreditações, gostava de deixar uma questão no ar: Porque é que temos na pista de Braga cerca de 30 a 40 fotógrafos e na prova seguinte em Portimão temos somente seis a oito? É porque os restantes não acompanham as corridas todas e como tal, deveriam ser diferenciados daqueles que fazem um esforço financeiro para cobrir todas as provas. Resumidamente, na minha opinião deveria haver um controlo maior nas acreditações, e separar fotógrafos com acesso ao paddock, com pouca experiência ou que são simples entusiastas de carros, dos fotógrafos com acesso à grelha e à pista, o qual só deveria ser dado aos Profissionais com CPJ e aos que têm cartão Media FPAK à mais de dois anos e que acompanharam no ano anterior pelo menos 75% das provas oficiais, neste caso do Campeonato de Portugal de Velocidade. “
Estamos sempre na busca da melhor informação, tentamos sempre prevalecer a imagem e a informação escrita, tornando a leitura mais rápida e acessível a todos os leitores.
João Raposo
+351 913 353 070
jraposo-air@portugalmail.pt
Copyright © TouchMobile & Design 2017