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DIVERSOS - HOJE CONVERSAMOS - NUNO ORGANISTA - FOTÓGRAFO

Segunda, 15 Março 2021 08:24 | Actualizado em Segunda, 26 Fevereiro 2024 11:32

HOJE CONVERSAMOS

 

NUNO ORGANISTA

“Quando começo a fotografar o meu único pensamento é o serviço que tenho para apresentar aos meus Clientes”, palavras de Nuno Organista

 

 

 

Tem uma década de actividade  coimo fotógrafo de automóveis, e é um dos melhores que temos em alguns dos cenários do nosso automobilismo nacional, nomeadamente em provas de circuito.  De seu nome  Nuno Organista, quisemos saber que é na realidade o Nuno Organista, que nos começou por dizer “ O meu nome é Nuno Miguel Organista Oliveira, mais conhecido no mundo da fotografia por NunOrganistA.   Nasci em Matosinhos e atualmente moro em Valongo (Porto). Tenho 44 anos de idade e faço fotografia de desporto automóvel somente há cerca de 10 anos. Contudo, nunca tirei um curso avançado de fotografia… sou autodidata e é assim que gosto de aprender… aprender com os erros. Sou licenciado em Gestão Bancária e Seguros e atualmente sou o responsável pela área de Middle-Office e Solvência de 3 empresas de um Grupo Financeiro.  Tenho 2 lindos filhos (o Igor e a Beatriz) e uma fantástica esposa e este ano vamos ser avós… sim avós, mas avós jovens e modernos. Muita gente pode-me achar um pouco arrogante ou que tenho a mania, só porque estou sempre focado no meu trabalho e por conviver ou falar pouco, mas isso tem uma simples justificação, sou uma pessoa tímida, não gosto de errar e não gosto de andar a bajular as pessoas.” De que maneira chegou ao jornalismo e à fotografia? Qual a razão pela fotografia de automóveis de competição, o que logo respondeu “Antes do nascimento da minha filha passava os meus tempos livres a tirar variados cursos em nada ligados à fotografia, até que com o aproximar do nascimento dela comprei uma máquina fotográfica digital da SONY com lente intermutável e o bichinho começou a crescer desde aí. Comecei a aprender umas “coisinhas” pela Internet, comecei a arriscar e a fazer uns batizados, uns eventos familiares, um casamento familiar, até que o meu vizinho David Sá me convida para ir com ele a uma prova da FEUP onde o filho iria correr com um FIAT Punto e comecei a acompanhá-los em todas as provas. Claro está que levava sempre a minha máquina para as corridas… até que um dia resolvi pedir autorização à Organização para ir para a pista fotografar o meu vizinho. Enquanto estava em pista ia vendo o que os outros fotógrafos faziam e os sítios que escolhiam para fotografar e lá ia eu tentar imitar. Quando comparava as fotos não tinham nada a ver com as dos outros fotógrafos, porque ou não tinham velocidade ou a saturação estava exagerada ou a exposição não era a melhor… e passava horas a pesquisar na net as soluções para as minhas falhas e na oportunidade seguinte lá ia eu tentar novamente. Ao contrário do que muitos fotógrafos faziam na altura, eu não me limitava a tentar fazer só cinco ou seis fotos “bonitinhas”, mas sim a contar uma história, ou seja, um serviço com princípio, meio e fim fruto da minha pouca experiência e baseado no que fazia até então nos batizados e casamentos. Até que o meu vizinho me disse que os outros pilotos estavam a gostar muito das fotos que eu fazia e que eu deveria falar com eles nas provas seguintes. E foi assim que comecei a fotografar desporto automóvel…”

 

 Ao longo destes anos de carreira diga-nos na sua opinião qual foi o ponto mais alto, o que depois de pensar um pouco disse “Para quem não se dedica a tempo inteiro à fotografia e dá muito valor à sua família, estaria a mentir se dissesse que tenho muitas ambições no que toca à fotografia e ou desporto automóvel. Como tal, para mim, todos os momentos em que estou a fotografar são de importância máxima. A minha dedicação ao serviço que presto aos meus clientes sejam nacionais ou internacionais, sejam de uma categoria mais baixa ou mais alta, é sempre a mesma… e o ponto mais alto é ver esse esforço reconhecido. Claro está que sinto um grande orgulho quando vejo publicações minhas nos Órgãos de Comunicação Social, principalmente na AutoSport e outros … mas o simples facto de saber que uma determinada foto correu o mundo todo, é a cereja no topo do bolo para qualquer fotógrafo… e isso felizmente já me aconteceu com a foto que fiz ao Tiago Monteiro quando estava no pódio com os milhares de fãs e admiradores de Vila Real como pano de fundo”.  E sustos já apanhou no desempenho do seu trabalho como jornalista/ fotógrafo? Conte-nos o que lhe aconteceu, “Sim, mas por incrível que pareça os maiores sustos que já apanhei foram nas 3 a 5 horas de viagem de regresso a casa depois de um fim de semana, entre andar a fotografar em pista e a editar fotos no Hotel, onde se trabalha entre 36 a 40 horas, já dei por mim a fechar o olho e só por sorte nada aconteceu. Contudo, também já apanhei alguns sustos quer em Circuitos, quer na Montanha, desde carros a capotar, peças pelo ar, tangentes ao local onde estava a fotografar… mas nada que colocasse a minha vida em perigo .Já me aconteceu várias vezes, ter tido a oportunidade de fotografar momentos únicos de acidentes e toques em pista, em que me fiquei somente pelo dedo em cima do disparador e aquele momento exclusivamente gravado na minha memória, porque o mais importante é sentirmos que estamos em segurança e não podemos ser egoístas ao ponto de colocar a nossa vida em risco só para fazer a nossa última foto.

 

 Para fazer a preparação duma prova em que vai trabalhar, quanto tempo necessita para organizar tudo, logo replicou  “Eu sou uma pessoa muito organizada e perfecionista e começo a preparar cada prova com pelo menos uma semana de antecedência por forma a que a minha equipa tenha todo o material pronto a disparar e acima de tudo cada um saiba o que vai fazer em pista e fora dela. Contudo, só em volta do material passo umas boas três a quatro horas a limpar e organizar. “ Que material fotográfico tem em sua posse para poder trabalhar? ”Neste momento o meu parque de fotografia principal é composto por 3 máquinas fotográficas: CANON 1Dx Mark III, CANON R5 e CANON R6. Quanto a lentes: CANON EF 8-15mm f/4L, SIGMA EF 24mm f/1.4, CANON RF 24-70mm f/2.8L IS, CANON RF 24-105mm f/4L IS, CANON RF 70-200mm f/2.8L IS, CANON EF 70-200mm f/2.8L IS III, SIGMA EF 105mm f/1.4, SIGMA EF 100-400mm f/5-6.3 DG OS HSM e CANON EF 200-400mm f/4L IS. Tenho 2 flash: ProFoto A1 e CANON Speedlite 600EX II-RT. Entre outros acessórios…”Qual a sua opinião acerca da evolução das máquinas fotográficas nestes últimos dois anos? “A tecnologia está em constante evolução e o mundo da fotografia atual está a dar um grande passo para o mundo mirrorless. As máquinas chamadas DSLR que atualmente vemos nas mãos dos fotógrafos (tirando as de topo de gama flagship) têm os dias contados e então este ano decidi renovar praticamente todo o meu material fotográfico. Foi um investimento enorme com uma única finalidade, a de bem servir…”

 

Na sua opinião o que acha do nosso automobilismo desportivo em todas as vertentes? Acha que tem evoluído?  Acha que está no bom caminho?  Podia-se fazer mais? “ Infelizmente não tenho muito tempo para acompanhar o automobilismo em geral. Não acompanho a Fórmula 1, não acompanho os rallies sejam nacionais ou internacionais, não acompanho o Motociclismo… basicamente não perco muito tempo com coisas que não pertencem ao meu mundo, ou ás minhas ambições. Portanto não tenho muito para dizer a este respeito . Com base na minha pouca experiência, a única coisa que posso dizer é que existem Promotores que tentam fazer sempre melhor que no ano anterior, mas quando não existem apoios e o dinheiro que cobram aos pilotos praticamente só dá para pagar aluguer de pista, não se pode exigir muito mais. Por outro lado, vejo que são poucos os pilotos que reconhecem isso e que conseguem dar umas palavras de incentivo para o pouco e bom que se tem feito, mas sem ovos não se podem fazer omeletes e os pilotos também têm que ajudar nem que seja na sua autopromoção e investirem um pouco na imagem e divulgação dos seus sponsors. ”Dentro do automobilismo quais as disciplinas que mais gosta de fotografar, e porquê? “Já fotografei durante alguns anos as provas de Montanha e adorei… os cenários, as cores, as pessoas. Neste momento dedico-me ás provas de Velocidade em Circuitos, e pouco mais, porque por muito que goste do que faço e dar sempre 200% de mim, quer faça chuva ou sol, dou muito valor à minha esposa e aos meus filhos e sei bem que os iria prejudicar bastante caso quisesse fotografar tudo o que tivesse duas ou quatro rodas, só pelo prazer de fotografar.” O que lhe vai no pensamento quando está a fotografar uma prova?” Como eu disse anteriormente, a minha profissão principal é muito stressante e só trabalho com números. Quando vou para uma prova mudo completamente o chip e isso faz-me muito bem psicologicamente. Quando começo a fotografar o meu único pensamento é o serviço que tenho para apresentar aos meus Clientes, só tenho que me focar na estratégia que delineei e dar o meu melhor naquele curto espaço de tempo.” Sente-se emocionado quando vê uma corrida e está a fotografar a mesma?  Tem assim algum episódio que nos possa contar?” Muita gente olha para as corridas, mas só vê quem ganha, enquanto que nós fotógrafos, somos uns privilegiados e vemos muito mais do que isso, mas confesso que nunca fico indiferente quando um cliente meu ganha uma prova. Pese embora, para mim, a verdadeira emoção de uma corrida não está na linha de meta, mas sim, no que determinado piloto fez durante a corrida, porque mesmo que não a ganhe sinto-me orgulhoso por estar a captar momentos que sei que um dia ele vai recordar com os filhos, com os netos, com os amigos e que isso só aconteceu porque eu estava lá. Contudo, todos temos os nossos ídolos e eu em particular tenho uma estima muito grande pelo Pedro Salvador, não só pelo excelente piloto que é, mas principalmente por ser como é: humilde, resiliente, sincero, trabalhador e amigo, e como tal, sempre que ele participa numa qualquer prova, vibro de maneira diferente seja numa corrida de carros de rolamentos ou de carros de competição…”

 

 Para quem se está a iniciar na fotografia e no jornalismo que conselhos gostaria de dar o que sem tempo rematou  “Custa-me dizer isto, mas no que se refere a fotógrafos e jornalistas focados somente na vertente do desporto motorizado em Portugal, tentem não fazer desta atividade a vossa principal profissão… em Portugal são pouco reconhecidos, ganham mal e será muito difícil terem uma vida familiar economicamente estável. A todos aqueles que já andam nisto faz alguns anos, fotógrafos talentosos e acima de tudo ainda jovens, não pensem duas  vezes e apostem numa carreira além-fronteiras.” E as condições de trabalho nas nossas provas são boas? O que poderia ser feito para melhorar estas mesmas condições de trabalho?”As condições que temos nos nossos Circuitos de Braga, Estoril e Portimão, não são más… Contudo, gostaria de apontar algumas coisas menos boas que poderiam ser melhoradas:

  • No meu entender, principalmente em Braga, são dadas acreditações a todo o tipo de fotógrafos, muitos deles sem saberem as regras base e como circular dentro de um Circuito;
  • Não existem briefings para fotógrafos dado pelos Organizadores dos eventos nacionais (deveria ser obrigatório em todos os eventos);
  • Tirando a amabilidade de alguns comissários de pista em nos darem uma ou outra garrafa de água durante as 7 ou 8 horas que andamos sem parar a fotografar, não existe nenhuma preocupação por parte dos Promotores e Organizadores em oferecerem nem que fosse uma única garrafa de água aos fotógrafos;
  • Em Braga a sala de imprensa é praticamente inexistente, digo isto porque no fundo existe um local com mesas, pouco ou nada vigiado, onde qualquer pessoa lá pode entrar, quer seja para assistir ás corridas longe do frio e do vento, ou para tudo e mais alguma coisa, menos para fazer silêncio e deixar trabalhar quem lá está para o fazer e também não existem acessos para os fotógrafos passarem de dentro para fora do circuito durante as provas, ao contrário dos restantes Circuitos;
  • Por outro lado, acho que no geral os próprios pilotos e equipas não valorizam os fotógrafos e pensam que basta carregar no botão e está feito. Esquecem-se que para além das horas e horas que os fotógrafos passam em pista, ao frio, ao sol, à chuva e as horas que passam durante a semana a arranjar as fotos, também têm contas para pagar e fazem regularmente um investimento de vários milhares de euros em material, já para não falar das despesas pessoais e familiares do dia a dia, que também têm que pagar. Mas por curiosidade veja-se só o exemplo de uma prova no Algarve de 3 dias: estadia 60€ x3 = 180€, aluguer de viatura com seguro = 120€, combustível = 160€, portagens = 100€, alimentação para uma equipa de 2 fotógrafos = 7€ x6 x2 = 84€, snacks e outros = 50€ e chicletes = 6€ para acertar o valor TOTAL = 700€ … falta acrescentar a este valor o “ordenado” dos elementos da equipa e o desgaste ou amortização do material.”

 

Acha que a atribuição dos Media FPAK deveria ser mais controlado, de forma a diferenciar os profissionais dos amadores de fim de semana?” Infelizmente em Portugal ter Media FPAK e Carteira Profissional de Jornalista (CPJ) é exatamente a mesma coisa e no meu entender existe aqui alguma confusão entre Media FPAK e os Profissionais, os quais possuem uma Carteira Profissional de Jornalista, trabalham para um OCS e que têm fotos suas publicadas com alguma regularidade nos OCS. Relativamente ás acreditações, gostava de deixar uma questão no ar: Porque é que temos na pista de Braga cerca de 30 a 40 fotógrafos e na prova seguinte em Portimão temos somente seis  a oito? É porque os restantes não acompanham as corridas todas e como tal, deveriam ser diferenciados daqueles que fazem um esforço financeiro para cobrir todas as provas. Resumidamente, na minha opinião deveria haver um controlo maior nas acreditações, e separar fotógrafos com acesso ao paddock, com pouca experiência ou que são simples entusiastas de carros, dos fotógrafos com acesso à grelha e à pista, o qual só deveria ser dado aos Profissionais com CPJ e aos que têm cartão Media FPAK à mais de dois  anos e que acompanharam no ano anterior pelo menos 75% das provas oficiais, neste caso do Campeonato de Portugal de Velocidade. “


Entrevista de João Raposo - www.velocidadeonline.com

 

 

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